Lúgubre

Lisa Marx por Jeremy Saffer
Lúgubre é o primeiro livro da trilogia Meia Noite.

Prólogo - Até a Morte, Até o fim,


- Você quer renascer, Ciel?

Simplesmente assim ela disse. Sem nada demais, sem efeitos. Esses olhos cor do inferno encarando os meus e estes encarando os dele que me devolviam o olhar. A proposta era tão inesperada que meus olhos arregalados quase refletiam nos dele. Preocupado? Talvez. Sério? Sempre.

- Você está falando sério? – meus lábios se moveram.

Incrível como poucas semanas de convívio e eles já dominaram a arte de conversar comigo. Algumas pessoas me pediam para escrever outras poucas para usar a linguagem de sinais. Mas não eles, talvez pela idade, eles já eram mestres na arte de leitura labial, o que me facilitava a vida. Eu falava, mas a minha voz não saia.

- É algo sério, Ciel. – Bernardo disse, enlaçando os dedos nos meus. – Não é uma decisão a ser tomada sem pensar... Renascer é algo sério. Muito sério.

- Renascer tem suas vantagens, muitas, muitas delas. E no seu caso em especial... – Pam lambeu os lábios pintados de vermelho, sem desviar aqueles olhos de mesma cor – Você seria agraciada. 

- Seria candidata à imortalidade perfeita. – completou Bernardo. – E todos os seus dramas. Antes de qualquer coisa, você precisa saber. Não há imortalidade, não há eternidade. Apenas candidatos à ela. A vida é longa, morrer é difícil, mas nunca impossível.

- Não o ouça, Ciel, ele está com ciúmes. – Ela piscou, pegando o seu copo suado, com Pepsi até a borda. Um momento em que ela colocou os lábios naqueles canudinhos vermelhos e sugou o líquido. Engraçado como tudo para ela tinha que ser vermelho. As unhas, os lábios, a roupa, as paredes. Era a sua cor preferida, óbvio, mas sem nunca exagerar. – Você teria algo que foi roubado de você por onze anos.

O sorriso malicioso em seus lábios foi o bastante para me fazer inclinar no sofá. Ela parecia um desesperado vendedor, tentando me convencer a comprar algo. Algo que seria melhor para ela do que para mim. Tentador.

- O que você quer dizer com isso?

Bernardo bufou e eu o olhei, questionando, mas ele simplesmente olhou na direção oposta e me ignorou. Que belo conforto tu és, Bernardo... Eu o cutuquei nas costelas, chamando a sua atenção para mim, assim ele poderia ler meus lábios.

- Por que não? - perguntei, aproximando-me dele no sofá de couro sintético e negro. Ele me encarou seriamente, levando a mão ao meu rosto.

- O que ela lhe propõe tem tanto lado bomo como ruim. Você não é familiar com o renascimento, você não sabe como é. Como dói. - disse, inclinando-se para dar-me um beijo na ponta do nariz.

Ela resmungou, agora com uma caixa de bombons em seu colo. Várias embalagens amassadas ao seu redor.

- Dor é passageira, a glória é eterna. O que eu posso lhe dar valerá cada segundo da dor.
- um, dois, três, quatro bombons se foram. Parecia uma criança na Páscoa, diante de todos aqueles ovos deliciosos que ganhou da família.

- Explique-se. – eu pedi. - O que você pode me dar?

Ela parou no meio do movimento de levar o quinto bombom de licor de cereja aos lábios e me encarou seriamente.

- Você gostaria de ter a sua voz de volta?


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